A anca é uma articulação constituída pela cabeça do fémur e pelo acetábulo que suporta o peso do corpo e lhe dá estabilidade, apresentando uma cápsula articular forte e vários músculos envolventes. Para além disso é uma articulação com algum grau de liberdade que permite movimentos de flexão, extensão, rotação interna e externa, abdução e adução. Quando existe alguma alteração na articulação, a estabilidade e a amplitude de movimento ficam condicionados, e pode haver risco de desenvolver desgaste da anca.
Indicações para Artroplastia da anca
- Situações traumáticas
A maioria das lesões desta articulação são consequência de fraturas que ocorrem principalmente na população com idade superior a 65 anos. As fraturas do colo do fémur, em que o osso rompe por traumatismo direto, podem decorrer de acidentes e quedas ou de traumatismos mínimos em casos de osteoporose.
- Situações ortopédicas
A artrose da anca é caraterizada por uma destruição progressiva dos componentes da articulação que leva à diminuição da função e à dor, dependendo do nível de desgaste. Estas alterações afetam frequentemente pessoas a partir dos 50 anos, no entanto, pode aparecer em pessoas mais novas e surgir em diferentes graus de intensidade.
A artrite reumatoide, a espondilite anquilosante, osteonecrose da cabeça femoral, sequelas de luxação congénita, tumores da cabeça e colo do fémur são também situações que podem levar à necessidade de substituição total da anca.
Tipos de Artroplastia
- Artroplastia parcial da anca – substituição do colo e da cabeça do fémur, sendo que o acetábulo permanece intacto.
- Artroplastial total da anca – substituição do colo e cabeça do fémur por um componente femoral e substituição do acetábulo por um componente acetabular. Nestes casos, a cabeça da prótese é menor que anatómica, originando menor pressão e atrito, o que causa menor desgaste, aumentando assim a durabilidade da prótese.
Existem vários tipos de próteses, sendo que as mais utilizadas são: a prótese total da anca (componente femoral e acetabular), prótese cimentada e não cimentada. A abordagem cirúrgica também pode variar entre anterolateral e posterolateral.
Tratamento
Existem várias possibilidades a nível do alívio da sintomatologia decorrente do desgaste articular da anca, nomeadamente o uso de analgésicos, anti inflamatórios, fisioterapia, entre outros. Quando estes procedimentos não resultam no alívio da dor, a intervenção cirúrgica para remover osso ou cartilagem danificada e realinhar ou alterar as superfícies articulares torna-se necessária. O principal objetivo da cirurgia é o alívio da dor, a melhora da função, corrigir as deformidades e restaurar ao máximo a integridade e funcionalidade da articulação.
Atualmente as intervenções cirúrgicas realizadas utilizam materiais que proporcionam a estabilidade necessária para o início precoce de mobilização e locomoção, diminuindo assim as consequências da imobilização. No entanto, para que a recuperação máxima seja possível são necessários programas de reabilitação adequados e precoces, nomeadamente a fisioterapia.
Fisioterapia na reabilitação do paciente
Após a intervenção cirúrgica, a fisioterapia tem como objetivos melhorar a funcionalidade do paciente e a sua independênica na realização das tarefas diárias, nomeadamente a nível de mobilidade, força muscular e tarefas de dia a dia, melhorar a marcha e prevenir complicações, nomeadamente da cicatriz. Para além disso o fisioterapeuta deve instruir o paciente à cerca do posicionamento do membro e movimentos contra indicados.
No pós operatório, o programa de reabilitação poderá iniciar no dia seguinte, dependendo sempre da tolerância da pessoa à dor. Deve incluir exercícios simples de força e mobilidade, sendo que entre o segundo e terceiro dia deve ser realizado o ensino e treino de mobilidade no leito e transferências, que deve progredir para o treino de marcha com auxiliar. Os exercícios devem ir progredindo à medida que o doente vai melhorando e devem ser incluídos exercícios de força dos membros inferiores e tronco, exercícios de mobilidade ativa e passiva, treino de marcha e exercícios de equilíbrio e proprioceção. Podem ainda ser utilizadas correntes analgésicas e terapia manual para melhorar a estética da cicatriz e devolver a mobilidade aos tecidos.
A realização de fisioterapia pode ir até aos 6 meses, dependendo das limitações de cada paciente, no entanto, na maioria dos casos é possível regressar às atividades laborais entre os 3 e os 6 meses.